quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Escória





Insensíveis ao ritmo e melodia dum poema,
aos acordes duma peça musical,
à leveza e graça duma dança.

Insensíveis à fragrância duma flor,
à transparência e murmúrios dum regato,
ap contínuo movimento dos astros.

Insensíveis ao fascínio dum ventre intumescido,
ao sorriso ou ao choro duma criança,
ao esplendor dum rosto encarquilhado.

Insensíveis a quanto de belo existe.
Insensíveis a quanto é do homem e da natureza
esforçada e útil criação

Tarados que só se divertem
verdadeiramente
com as mais requintadas perversões,
com as mais refinadas torturas,
desde o corte de orelhas
a mortos e vivos
para com elas fazerem colecções
até obrigarem as suas vítimas
a cavarem as próprias sepulturas

Avançam isoladas ou aos pares,
com as armas escondidas
e disfarçadas de cidadãos vulgares.

Vão arrancar a casa e á cama
quase sempre durante a noite
(porque temem a claridade),
todo o homem e mulher
por eles descoberto
cujo crime é lutar
por um mundo melhor.

Deixam tudo revolvido,
rspalhado e partido,
como se por ali tivesse passado
um furacão

Vão emboscar,
depois de calculada perseguição,
para abaterem ali mesmo
ou para levarem para as câmaras da tortura,
todo o homem e mulher por eles descoberto
cujo delito consiste
em travar um luta desigual
para que chegue mais depressa o dia
em que a violência organizada
não tenha mais lugar

Avançam às dezenas,
cerrando fileiras.
Empunhma bastões
e pistolas-metralhadoras.
Protejem-se atrás de escudos,
capacetes e viseiras

Vão carregar com fúria
sobre uma concentração de trabalhadores
que pretendem comemorar uma data sua,
protestar contra a tirania
ou fazer uma reivindicação.

Anançam às centenas e aos milhares
em velozes veículos da morte
e com armas terríveis prontas a disparar,
tudo saído a granel
dos covis do capital.

Vão matar a torto e a direito
onde quer que o povo se levanta
determinado a comandar o próprio destino

Vão destruir centros de produção,
escolas e hospitais,
habitações e vias de comunicação.

Mais ferozes
que os mais ferozes animais
que só matam em legítima defesa
ou para se alimentarem,
não sabem os mercenários
traidores da sua classe
que não haverá armas capazes de impedirem
a tomada do poder pelo proletariado
em todo o mundo.

Mas sabem-no os seus patrões,
esses que se mantém
lá bem à rectaguarda,
passeando nos seus iates e nos seus aviões,
divertindo-se nos casinos e nos salões,
com intervalos para falarem
do perigo comunista
(perigo para eles, é verdade),
da slavação da pátria
(como se a pátria fosse só deles)
e dos direitos humanos
(ao mesmo tempo que mandam aperfeiçoar
os aparelhos genocidas).

Sabem-no esses...
quanto mais não seja
porque vêem reduzir-se o espaço
para onde podem fugir

Sabem-no esses...
mas não está na sua índole pararem.

Só o farão quando por completo for destruída
a sua máquina de fabricar drogados,
proxenetas e prostitutas,
tarados e assasinos.

Sim, sabem-no esses...
mas não está na sua natureza mudarem.

Só o farão quando for destruída
sem remissão
a sua máquina de fabricar
carne para canhão.

Um tempo que há-de chegar.




Do Livro "Memória Inconsumivel" - Capítulo " Utopias"
Foto - http://www.brasildefato.com.br/



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