Companheiros!
Há por aí quem diga
que nós não queremos trabalhar
São os que comem
o que nós produzimos
e se gozam da beleza e do conforto
do que sai das nossas mãos
"Não querem trabalhar"
"Não querem trabalhar"
"Não querem trabalhar"
Dizem-no e repetem-no
sem vergonha nenhuma
os que chamam um electricista
só para substituir uma lâmpada
Dizem-no e repetem-no
até à exaustão
os que não se comovem
com as viúvas e os órfãos
deixados por aqueles
que para apanharem o peixe
que eles comem
vão morrer no mar
Os que nunca plantaram uma couve
nem sabem os cuidados
que é preciso ter com ela
Os que nunca ordenharam
nem viram ordenhar
o leite que bebem
nem sabem como se faz
o queijo e a manteiga
São os que gostariam
que em toda a parte
fosse como no Chile de Pinochet
e na Argentina de Videla
no Marrocos de Hassan II
e no Egipto de Sadat
no Israel sionista
e na Indonésia de Suharto
São os saudosos
da Alemanha de Hitler
e da Itália de Mussolini
do Portugal de Salazar e Caetano
e da Espanha de Franco
São os que espumam de raiva
quando ouvem os nossos passos firmes
onde até há poucos anos
só ouviam o som dos bastões
a desbaratarem as nossas manifestações
São os que sentem a úlcera latejar
quando vêem os nossos desfiles
com máquinas e ferramentas
onde antes só viam passar
tropas fascistas
com tanques e baionetas
Passam os dias
a derramar veneno
a nadar na mentira
a mergulhar na calúnia
porque já não trabalhamos
para eles enriquecerem
Estão quase mortos
são quase cadáveres
O veneno que derramaram
a eles próprios mata
mas movem-se por aí
e incomodam
Cantemos
Cantemos companheiros
porque o presente somos nós
Marchemos
Marchemos companheiros
rumo ao futuro que nos pertence
Do livro "Memória Inconsumível" - Capítulo "Utopias"
Foto - criticadodireito